quarta-feira, 30 de junho de 2010

Legião Urbana - Que país é esse


  1. Que País É Este
    • (Renato Russo)

      Nas favelas, no Senado
      Sujeira pra todo lado
      Ninguém respeita a Constituição
      Mas todos acreditam no futuro da nação

      Que país é este

      No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense
      Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz
      Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
      Manchando os papéis, documentos fiéis
      Ao descanso do patrão

      Que país é este

      Terceiro mundo, se for
      Piada no exterior
      Mas o Brasil vai ficar rico
      Vamos faturar um milhão
      Quando vendermos todas as almas
      Dos nossos índios num leilão.

      Que país é este

  2. Conexão Amazônica
    • (Renato Russo / Felipe Lemos)

      Estou cansado de ouvir falar
      Em Freud, Jung, Engels, Marx
      Intrigas intelectuais
      Rodando em mesa de bar
      Yeah, yeah, yeah.

      O que eu quero eu não tenho
      O que eu não tenho quero ter
      Não posso ter o que eu quero
      E acho que isso não tem nada a ver
      Yeah, yeah, yeah.

      Os tambores da selva já começaram a rufar
      A cocaína não vai chegar
      Conexão amazônica está interompida
      Yeah, yeah, yeah.

      E você quer ficar maluco sem dinheiro e acha que está tudo bem
      Mas alimento pra cabeça nunca vai matar a fome de ninguém
      Uma peregrinação involuntária talvez fosse a solução
      Auto-exílio nada mais é do que ter seu coração na solidão
      Yeah, yeah, yeah.

  3. Tédio (com um T Bem Grande pra Você)
    • (Renato Russo)

      Moramos na cidade, também o presidente
      E todos vão fingindo viver decentemente
      Só que eu não pretendo ser tão decadente não

      Tédio com um T bem grande pra você

      Andar a pé na chuva, às vezes eu me amarro
      Não tenho gasolina, também não tenho carro
      Também não tenho nada de interessante pra fazer

      Tédio com um T bem grande pra você

      Se eu não faço nada, não fico satisfeito
      Eu durmo o dia inteiro e aí não é direito
      Porque quando escurece, só estou a fim de aprontar

      Tédio com um T bem grande pra você

  4. Depois Do Começo
    • (Renato Russo)

      Vamos deixar as janelas abertas
      Deixar o equilíbrio ir embora
      Cair como um saxofone na calçada
      Amarrar um fio de cobre no pescoço

      Acender o intervalo pelo filtro
      Usar um extintor como lençol
      Jogar pólo-aquático na cama
      Ficar deslizando pelo teto
      Da nossa casa cega e medieval
      Cantar canções em línguas estranhas
      Retalhar as cortinas desarmadas
      Com a faca surda que a fé sujou
      Desarmar os brinquedos indecentes
      E a indecência pura dos retratos no salão
      Vamos beber livros e mastigar tapetes
      Catar pontas de cigarros nas paredes

      Abrir a geladeira e deixar o vento sair
      Cuspir um dia qualquer no futuro
      De quem já desapareceu
      Deus, Deus, somos todos ateus
      Vamos cortar os cabelos do príncipe
      E entregá-los a um deus plebeu

      E depois do começo
      O que vier vai começar a ser o fim

  5. Química
    • (Renato Russo)

      Estou trancado em casa e não posso sair
      Papai já disse, tenho que passar
      Nem música eu não posso mais ouvir
      E assim não posso nem me concentrar

      Não saco nada de Física
      Literatura ou Gramática
      Só gosto de Educação Sexual
      E eu odeio Química

      Não posso nem tentar me divertir
      O tempo inteiro eu tenho que estudar
      Fico só pensando se vou conseguir
      Passar na porra do vestibular

      Chegou a nova leva de aprendizes
      Chegou a vez do nosso ritual
      E se você quiser entrar na tribo
      Aqui no nosso Belsen tropical

      Ter carro do ano, TV a cores, pagar imposto, ter pistolão
      Ter filho na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão
      Ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão
      Você tem que passar no vestibular.

  6. Eu Sei
    • (Renato Russo)

      Sexo verbal não faz meu estilo
      Palavras são erros e os erros são seus
      Não quero lembrar que eu erro também

      Um dia pretendo tentar descobrir
      Porque é mais forte quem sabe mentir
      Não quero lembrar que eu minto também

      Eu sei

      Feche a porta do seu quarto
      Porque se toca o telefone pode ser alguém
      Com quem você quer falar
      Por horas e horas e horas

      A noite acabou, talvez tenhamos que fugir sem você
      Mas não, não vá agora, quero honras e promessas
      Lembranças e estórias

      Somos pássaro novo longe do ninho

      Eu sei

  7. Faroeste Caboclo
    • (Renato Russo)

      - Não tinha medo o tal João de Santo Cristo,
      Era o que todos diziam quando ele se perdeu.
      Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
      Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu.
      Quando criança só pensava em ser bandido,
      Ainda mais quando com um tiro de um soldado o pai morreu
      Era o terror da cercania onde morava
      E na escola até o professor com ele aprendeu.

      Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
      Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar.
      Sentia mesmo que era mesmo diferente
      Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
      Ele queria sair para ver o mar
      E as coisas que ele via na televisão
      Juntou dinheiro para poder viajar
      E de escolha própria, escolheu a solidão

      Comia todas as menininhas da cidade
      De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
      Aos quinze, foi mandado para o reformatório
      Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

      Não entendia como a vida funcionava -
      Discriminação por causa da sua classe ou sua cor
      Ficou cansado de tentar achar resposta
      E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

      E lá chegando foi tomar um cafezinho
      E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
      E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
      Mas João foi lhe salvar
      Dizia ele: - Estou indo pra Brasília
      Neste país lugar melhor não há.
      Estou precisando visitar a minha filha
      Então fico aqui e você vai no meu lugar.

      E João aceitou sua proposta e num ônibus entrou no Planalto Central
      Ele ficou bestificado com a cidade
      Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal.
      - Meu Deus, mas que cidade linda,
      No ano-novo eu começo a trabalhar.
      Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
      Ganhava três mil por mês em Taguatinga

      Na sexta-feira ia pra zona da cidade
      Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
      E conhecia muita gente interessante
      Até um neto bastardo do seu bisavô:
      Um peruano que vivia na Bolívia
      E muitas coisas trazia de lá
      Seu nome era Pablo e ele dizia
      Que um negócio ele ia começar.

      E o Santo Cristo até a morte trabalhava
      Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
      E ouvia às sete horas o noticiário
      Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar
      Mas ele não queria mais conversa e decidiu que,
      como Pablo, ele ia se virar
      Elaborou mais uma vez seu plano santo
      E, sem ser crucificado, a plantação foi começar.

      Logo logo os malucos da cidade souberam da novidade:
      - Tem bagulho bom ai!
      E João de Santo Cristo ficou rico
      E acabou com todos os traficantes dali.
      Fez amigos, freqüentava a Asa Norte
      E ia pra festa de rock, pra se libertar
      Mas de repente
      Sob uma má influência dos boyzinhos da cidade
      Começou a roubar.

      Já no primeiro roubo ele dançou
      E pro inferno ele foi pela primeira vez
      Violência e estupro do seu corpo
      - Vocês vão ver, eu vou pegar vocês.

      Agora o Santo Cristo era bandido
      Destemido e temido no Distrito Federal
      Não tinha nenhum medo de polícia
      Capitão ou traficante, playboy ou general.
      Foi quando conheceu uma menina
      E de todos os seus pecados ele se arrependeu.
      Maria Lúcia era uma menina linda
      E o coração dele
      Pra ela o Santo Cristo prometeu
      Ele dizia que queria se casar
      E carpinteiro ele voltou a ser
      - Maria Lúcia, pra sempre vou te amar
      E um filho com você eu quero ter.

      O tempo passa e um dia vem à porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão
      E ele faz uma proposta indecorosa e diz que espera uma resposta.
      Uma resposta do João:
      - Não boto bomba em banca de jornal nem em colégio de criança
      Isso eu não faço não
      E não protejo general de dez estrelas, que fica atrás da mesa
      Com o cu na mão.
      E é melhor senhor sair da minha casa
      Nunca brinque com um Peixes com ascendente Escorpião.
      Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
      - Você perdeu sua vida, meu irmão.

      Você perdeu a sua vida meu irmão. Você perdeu a sua vida meu irmão
      Essas palavras vão entrar no coração
      E Eu vou sofrer as conseqüências como um cão.
      Não é que o Santo Cristo estava certo
      Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
      Se embebedou e no meio da bebedeira descobriu que tinha outro
      Trabalhando em seu lugar
      Falou com Pablo que queria um parceiro
      E também tinha dinheiro e queria se armar
      Pablo trazia o contrabando da Bolívia e Santo Cristo revendia em Planaltina

      Mas acontece que um tal de Jeremias, traficante de renome,
      Apareceu por lá
      Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
      E decidiu que, com João ele ia acabar.
      Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
      E Santo Cristo já sabia atirar
      E decidiu usar a arma só depois
      Que Jeremias começasse a brigar

      (O Jeremias, maconheiro sem-vergonha, organizou a Rockonha
      E fez todo mundo dançar)

      Desvirginava mocinhas inocentes
      E dizia que era crente mas não sabia rezar

      E Santo Cristo há muito não ia pra casa
      E a saudade começou a apertar
      - Eu vou embora, eu vou ver Maria Lúcia
      Já tá em tempo de a gente se casar.

      Chegando em casa então ele chorou
      E pro inferno ele foi pela segunda vez
      Com Maria Lúcia Jeremias se casou
      E um filho nela ele fez.

      Santo Cristo era só ódio por dentro e então o Jeremias pra um duelo ele chamou
      Amanhã às duas horas na Ceilândia, em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou
      E você pode escolher as suas armas que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
      E mato também Maria Lúcia, aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

      Santo Cristo não sabia o que fazer
      Quando viu o repórter da televisão
      Que deu notícia do duelo na TV
      Dizendo a hora e o local e a razão

      No sábado então, às duas horas, todo o povo
      Sem demora foi lá só para assistir
      Um homem que atirava pelas costas e acertou o Santo Cristo
      E começou a sorrir.
      Sentindo o sangue na garganta,
      João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
      E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
      A gente da TV que filmava tudo ali.

      E se lembrou de quando era uma criança e de tudo o que vivera até ali
      E decidiu entrar de vez naquela dança
      - Se a via-crucis virou circo, estou aqui.

      E nisso o sol cegou seus olhos e então Maria Lúcia ele reconheceu
      Ela trazia a Winchester-22
      A arma que seu primo Pablo lhe deu

      - Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é.
      E não atiro pelas costas não.
      Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
      Dá uma olhada no meu sangue
      E vem sentir o teu perdão.

      E Santo Cristo com a Winchester-22
      Deu cinco tiros no bandido traidor
      Maria Lúcia se arrependeu depois
      E morreu junto com João, seu protetor

      E o povo declarava que João de Santo Cristo era santo porque sabia morrer
      E a alta burguesia da cidade não acreditou na estória que eles viram na TV
      E João não conseguiu o que queria quando veio pra Brasília, com o diabo ter
      Ele queria era falar pro presidente
      Pra ajudar toda essa gente
      Que só faz sofrer.

  8. Angra Dos Reis
    • (Renato Russo/ Renato Rocha/ Marcelo Bonfá)

      Deixa, se fosse sempre assim quente
      Deita aqui perto de mim
      Tem dias em que tudo está em paz
      E agora os dias são iguais.

      Se fosse só sentir saudade
      Mas tem sempre algo mais
      Seja como for
      É uma dor que dói no peito
      Pode rir agora que estou sozinho
      Mas não venha me roubar.

      Vamos brincar perto da usina
      Deixa pra lá, a angra é dos Reis
      Por que se explicar se não existe perigo?
      Senti teu coração perfeito bBatendo à toa
      E isso dói

      Seja como for
      É uma dor que dói no peito
      Pode rir agora que estou sozinho
      Mas não venha me roubar

      Vai ver que não é nada disso
      Vai ver que já não sei quem sou
      Vai ver que nunca fui o mesmo
      A culpa é toda sua e nunca foi...
      Mesmo se as estrelas começassem a cair
      E a luz queimasse tudo ao redor
      E fosse o fim chegando cedo
      E você visse o nosso corpo em chamas
      Deixa, pra lá.

      Quando as estrelas começarem a cair
      Me diz, me diz pra onde a gente vai fugir?

  9. Mais Do Mesmo
    • (Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Renato Rocha/ Marcelo Bonfá)

      Ei menino branco o que é que você faz aqui
      Subindo o morro pra tentar se divertir
      Mas já disse que não tem
      E você ainda quer mais
      Por que você não me deixa em paz?

      Desses vinte anos nenhum foi feito pra mim
      E agora você quer que eu fique assim igual a você
      É mesmo, como vou crescer se nada cresce por aqui?
      Quem vai tomar conta dos doentes?
      E quando tem chacina de adolescentes
      Como é que você se sente?

      Em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel.
      Sempre mais do mesmo
      Não era isso que você queria ouvir?

      Bondade sua me explicar com tanta determinação
      Exatamente o que eu sinto, como penso e como sou
      Eu realmente não sabia que eu pensava assim
      E agora você quer um retrato do país
      Mas queimaram o filme
      E enquanto isso, na enfermaria
      Todos os doentes estão cantando sucessos populares.
      (e todos os índios foram mortos).


http://www.4shared.com/file/qd1IHF8Z/Legio_Urbana_-_Que_pais__Este.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário